Antes de começar o texto quero fazer duas ressalvas. A primeira é que esse artigo é uma tradução e adaptação livre feita e revisada por designers. A segunda ressalva é que artigo original em inglês pode ser lido no site da Service Design Network (SDN), para isso basta você fazer um simples cadastro e terá acesso a esse e muitos outros artigos de Design de Serviço nesse link
Realmente faz sentido construir um time interno de Design de Serviço? Será que o esforço, tempo e dinheiro investidos vão mesmo trazer benefícios para a empresa? A melhor solução é criar uma área interna ao invés de contratar uma consultoria? Todas essas perguntas foram levantadas quando surgiu a ideia de ter um time de Design de Serviço dentro da KONE, há mais de dois anos. Depois de algum tempo nessa jornada, eu posso responder com convicção que a resposta para todas essas perguntas acima é: sim! sim! sim! Essa é a nossa jornada.
O papel do design na KONE
Fundada em 1910, a KONE tem mais de 47 mil empregados com um lucro de 7,3 bilhões de Euros em 2014. Sua missão é entregar a melhor experiência de circulação de pessoas: permitir um fluxo de pessoas de forma suave, otimizada e agradável dentro de edifícios, através de soluções como elevadores, escadas rolantes, portas automáticas e controle de acesso. Enquanto produtos são mais tangíveis e de rápido crescimento nos negócios da KONE, serviços são a parte mais estável da indústria e oferecem a maior gama de oportunidades.
O design na KONE cresceu a partir de ações internas. Em sete anos, o design tornou-se uma das três principais áreas estratégicas de P&D, juntamente com eco-eficiência e conforto de passeio. Nossos novos produtos ganharam vários prêmios, incluindo os de Red Dot, Good Design e Fennia. A nossa nova gama de produtos foi, aos poucos, revitalizando e fortalecendo a nossa identidade.
Naturalmente, o próximo passo é pensar em projetar serviços. Mas, como fazer isso? Trata-se de aprimorar nossos serviços ou criar novos? Na verdade, o que Design de Serviço significa para nós? Estas são perguntas complicadas, especialmente no início quando ainda nos faltava experiência para responder de forma honesta e certeira. Ainda não temos respostas finais, mas as medidas tomadas até agora não são apenas sólidas, como também inspiradoras. Este artigo compartilha algumas das principais lições aprendidas durante esses anos.
Iniciando um movimento
Teoricamente, todas as empresas querem estar cada vez mais centradas nos seus clientes ou usuários. No entanto, na realidade, uma mudança deste tipo é, no mínimo, desafiadora e nem sempre é o movimento mais adequado para uma empresa. Assim, o primeiro passo é responder à pergunta: “por que fazer isso?”.
Lembre-se que o “porquê” muitas vezes inclui uma combinação de fatores, como foi no nosso caso. Por um lado, tivemos fortes impulsionadores internos: uma estratégia clara da empresa com metas orientadas para o cliente e uma forte crença de que podemos simplesmente ser melhores criando soluções a partir de um ponto de vista baseado nas pessoas (necessidades, desejos e motivações), ao invés de ser baseado em tecnologia (máquinas e/ou recursos). Em outras palavras, primeiro temos que definir o valor para nossos clientes e usuários e, em seguida desenvolver as soluções. Por outro lado, nós tínhamos histórias suficientes dos nossos próprios clientes que eram tão fortes que moviam as pessoas internamente para uma mudança.
Antes de qualquer esforço para mudar algo, certifique-se de saber porque você está mudando. Se não conseguir responder à questão, nem se dê ao trabalho de começar a mudar aquilo. Isso ocorre porque não estamos falando de Design de Serviço como uma atividade isolada. É mais parecido com uma bola de neve: quando se começa a trabalhar com aquilo que é valor para o cliente ou usuário, há uma grande chance que isso leve a uma mudança no DNA da empresa, refletindo-se em mudanças na organização, nas habilidades dos profissionais, nos produtos e processos. Esta mudança não apenas exige grandes investimentos como também traz à tona problemas difíceis de se prever.
Por essa razão, o Design de Serviço pode ser uma abordagem bastante radical. É preciso coragem. E essa coragem deve vir de pessoas que exercem função de liderança na empresa, mesmo que esse papel não esteja em suas descrições de função ou cargo. Nós, como designers, estamos bastante convencidos da nossa abordagem e confiantes de que é a única maneira de realmente desenvolver soluções direcionadas aos interesses dos clientes e usuários. Mas, quando se está tentando construir uma habilidade como essa, de natureza interdisciplinar, é preciso sair de uma zona de conforto. No nosso caso, o grande ponto de mudança ocorreu quando fizemos aliados nas áreas de negócios e tecnologia da KONE, aqueles indivíduos extraordinários que tiveram visão, confiança e credibilidade para realmente mudar as coisas. Derek Sives, em um TED Talks chamado “Como começar um movimento”, tocou no cerne da nossa questão. Nós experimentamos algo semelhante: o design pode ter sido o ponto de partida, mas o movimento só começou mesmo quando pessoas de outras funções agiram a partir dele, multiplicando-o e promovendo-o.
Pense grande, dê passos pequenos
Um dos melhores conselhos que ouvi no mundo corporativo foi “não tente comer o elefante com apenas uma mordida”. A partir de um pequeno projeto piloto você pode fazer maravilhas pois, com um investimento menor, é possível criar evidências de como o Design do Serviço pode mudar a maneira de fazer as coisas trazendo melhores resultados.
Com o piloto, você também tem uma melhor compreensão do que será exigido para a mudança e os efeitos que ela causará. Você tira a conversa do plano teórico e leva para a prática, com soluções, benefícios e implicações concretas: estes sim, são muito mais fáceis de explicar e compreender. No entanto, isso não significa que esse piloto deve ser um projeto pouco ambicioso. Muito pelo contrário! Planeje todo o caminho até um grande objetivo (um que alguns podem até mesmo considerar inacessível) e considere esse o primeiro passo.
Realizar um projeto piloto fez com que nos sentíssemos mais confiantes sobre os benefícios de nossa abordagem, reforçando o caminho para a aprovação do primeiro grande projeto de Design de Serviço. Este foi o nosso maior marco, pois ele concretizou uma promessa. Paralelamente a esta garantia, é preciso decidir uma abordagem a ser seguida, não só para o próprio projeto mas também para o futuro da implementação de Design de Serviço na empresa. Decisões feitas aqui afetam o plano de longo prazo, por isso, é melhor pensar vários passos à frente.
Design de Serviço B2B: a equipe dos sonhos
Uma das questões centrais nesse ponto era se iríamos construir nossa experiência de Design de Serviço com um time interno ou com consultores externos. Do meu ponto de vista, uma combinação de ambos é o caminho mais seguro. Em primeiro lugar, precisávamos de um esforço interno para possibilitar um dos elementos mais fundamentais no Design do Serviço: times multidisciplinares. A natureza dos serviços é muito mais líquida do que a dos produtos porque, quando falamos de serviço, estamos refletindo sobre processos, capacidades e fluxos. É necessário experiência, know-how e responsabilidades de diferentes áreas dentro da empresa. Isto, obviamente, não pode ser adquirido de uma solução externa. Por isso, um dos maiores desafios enfrentados durante a implementação de uma equipe de Design de Serviço é desenvolver a habilidade interna de envolver as pessoas certas no momento certo e conseguir que todos estejam comprometidos.
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